MMA são conhecidas pela violência, mas há regras e os torneios são organizados profissionalmente. Agora, uma imitação deturpada desse esporte virou moda dentro dos presídios de Pernambuco. O dinheiro e as apostas correm solto e os carcereiros nem chegam perto. Ali, sim, vale tudo.
No pátio do presídio, totalmente tomado por detentos, o barulho é alto. Dois presos dão orientações a um outro preso. Uma verdadeira platéia, espalhada pelo chão e pela marquise, delira. Um homem sem camisa dá o sinal: começa uma briga sem regras, em um espetáculo bizarro de violência. Não há por perto nenhuma autoridade do Estado. O presídio é dos presos"
As lutas de
"Quando termina a luta? Quando um desmaia" diz um ex-presidiário que participou de oito desses combates. "Vai até o último suspiro, até a enfermaria", diz ele.
Isso acontece no Conjunto Prisional do Curado, no Recife. Um outro homem, que também cumpriu pena no local, diz que as lutas são frequentes: "Aquelas lutas, elas acontecem todos os dias. Existem os treinamentos, existe a preparação e depois são marcados dias específicos para um torneio mesmo".
Os presos que têm dinheiro patrocinam os lutadores e bancam as apostas. Os agentes penitenciários não interferem, mas confirmam a história. Um deles diz que não é só no Curado: "Lutas apostadas nos presídios em geral de Pernambuco é uma coisa bem comum, sim".
A pancadaria não é o único absurdo no Curado. Como nos outros presídios, o uso de celular pode ser comprovado a qualquer momento, em qualquer setor. O vídeo das lutas foi feito por um dos presos. E essa terra sem lei fica a poucos passos dos cidadãos de bem.
Os presídios foram construídos 44 anos atrás. Na época, não haviam casas e moradores por perto. Mas a cidade cresceu e hoje o cenário está diferente - o presídio se tornou vizinho de comércios, escolas e residências. "A gente nunca sabe, quando a gente bota o pé pra fora de casa, quem que vai nos abordar. Porque sempre existindo fuga, sempre tendo tentativas de jogar droga pra dentro", diz o motorista Robson Rocha, morador da região.
Somente em 2016 foram registradas cinco tentativas de fuga com o uso de explosivos. Em uma delas, em janeiro, 40 presos conseguiram escapara pelo buraco aberto no muro. "Adentraram aqui por cima das casas e saíram correndo. Me deram prejuízo de várias telhas [que foram quebradas], minha menina até hoje tem traumas", conta Robson.
Os moradores organizaram um abaixo-assinado, pedindo a retirada do presídio - o Ministério Público apóia, como confirma o promotor de Justiça Marcellus Ugiette, quando diz que o modelo do presídio "é o exemplo do que não pode ser". Mas o secretário de Justiça de Pernambuco, Pedro Eurico, não pensa na remoção: "Nenhuma chance", diz ele, lembrando que sete presídios estão em construção na região metropolitana de Recife. "Nós vamos é reduzir a população carcerária dessas unidades, com novas construções", afirma.
Atualmente, 7 mil presos se expremem no complexo do Curado, planejado para receber menos de 2 mil.
Sobre as lutas organizadas pelos presos, o secretário de Justiça diz que os responsáveis vão responder por elas.
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