Grupo acusa boate de fazer promoção para deixar mulheres vulneráveis
Integrantes do Coletivo Namoradas consideraram a iniciativa do evento abusiva e decidiram fazer uma intervenção: cadastraram-se para ir ao local com o intuito de irem embora à meia-noite
Promoção liberava bebida para mulheres após as 22h: protesto
Um coletivo de cerca de 50 lésbicas e bissexuais que se inscreveu para curtir show de samba e sertanejo reclama de ter sido barrado na porta de uma boate do Setor Comercial Norte, na última quinta-feira. Durante a divulgação, os promotores do evento anunciaram que mulheres inscritas como VIPs não pagariam entrada e teriam bebida liberada a partir das 22h. Os homens gastariam pela bebida e para entrar.
Integrantes do Coletivo Namoradas consideraram a iniciativa do evento abusiva e decidiram fazer uma intervenção: cadastraram-se para ir ao local com o intuito de irem embora à meia-noite. Mesmo tendo cumprido as exigências para participarem da festa com os “privilégios”, elas foram barradas na entrada, o que gerou bate-boca e discussões nas redes sociais.
As porta-vozes da ação, Bárbara Martino, Danielle Miranda e Manuela Oliveira, explicaram que, para o grupo, a estratégia de liberar bebidas para mulheres as deixa vulneráveis. “Quando soubemos da promoção, ficamos revoltadas. Elas (as mulheres), em tese, estariam mais fáceis. Os homens pagam valor alto, mas têm esse chamativo. Eles alegam que isso é privilégio, mas não é. É objetificação”, detalha o trio, que organizou o ato nas redes sociais.
Uma gerente do estabelecimento procurou as representantes do coletivo para pedir que desistissem da intervenção. Quando cerca de 50 pessoas chegaram ao local, disseram que elas não estavam com o nome na lista e separaram duas filas, uma para o grupo e outra para as demais clientes. Para as porta-vozes, isso ocorreu por elas serem homossexuais. “Nós passamos 52 nomes, mas nenhum estava na lista. Colocamos umas meninas da nossa fila na outra, e elas entraram. Aí, disseram-nos que poderíamos entrar, mas teríamos de pagar R$ 60. Foi tudo filmado. Somente as meninas lésbicas não usufruíram do evento”, reclamam.
O grupo se reuniu às 17h de ontem para decidir se recorreria à Justiça ou se registraria ocorrência. Por telefone, a gerente que conversou com as mulheres disse que denunciaria o caso na 5ª DP (Área Central). Segundo a funcionária, que não quis se identificar, a promoção ocorre há 5 anos e vale só para mulheres maiores de 18 anos. “Elas disseram que estavam com o nome na lista e entraram na fila. As meninas cadastradas entraram e beberam. Para as que não estavam cobramos entrada de R$ 40, mas elas não aceitaram. Ninguém foi barrado. Elas tinham o direito de ir e vir, mas teriam de pagar a entrada. Temos clientes e funcionários homossexuais. Não somos uma casa homofóbica e, em nenhum momento, eu fui homofóbica”, afirmou. “Elas queriam prejudicar um estabelecimento que fez uma promoção sem maldade. Eu estava trabalhando honestamente, fazendo o meu trabalho, e elas me ofenderam, me humilharam.”
Na sexta-feira, muita gente procurou a página da boate para prestar apoio ao coletivo, mas o moderador apagou os comentários. Ainda assim, muitos se queixaram da casa em espaço para avaliações que não pode ser deletado. Uma internauta disse para mulheres evitarem o local que “nos usa como iscas para atrair homens. Que veem as mulheres como meros objetos e um atalho para o lucro”. Pelo Twitter, a cantora Daniela Mercury também se manifestou: “Os jovens inteligentes de Basília devem boicotar esse lugar”.
O promotor do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação do Ministério Público do DF e Territórios, Thiago Pierobom, associa o episódio a situações nas quais as representações de homem e mulher se diferenciam na sociedade. “Quando vamos a um rodízio, as mulheres, mesmo comendo menos do que os homens, de uma forma geral, não pagam menos que eles. Nas casas noturnas, a estratégia pensa nas mulheres como um atrativo para o público masculino. Não é prejuízo que paguem menos”, afirma.
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