A blogueira cubana disse ; “Não temo pela minha vida”

Sem vaias, palavras de ordem, gritos e palavrões e com um ambiente muito mais tranquilo do que a noite da última segunda-feira (18). Foi desta forma que a Yoani Sanchéz falou sobre sua vida, o blog Generación Y, política, religião e como não poderia deixar de ser Cuba, seu país de origem, a ilha no centro do continente americano que há 54 anos é governada pelo regime castrista.
A blogueira cubana, que fez da nação tupiniquim sua primeira rota após ter o passaporte liberado pelo governo, revelou que ainda passará por países como México, nas cidades de Puebla e na capital Cidade do México, em Amsterdã, na Holanda, Madrid (Espanha), Nova Iorque e Miami, nos EUA, onde visitará sua irmã.
 
Apesar das palavras proferidas pelos manifestantes na noite de ontem, como “mercenária” e “traidora”, Sanchéz disse que atualmente seria difícil presenciar uma movimentação semelhante em Cuba, onde as manifestações são apoiadas pelo governo contra segmentos opositores ao regime socialista. 
 
“Se um dissidente tentar fazer um ato público não dura mais de 10 minutos, com a chegada da Polícia e prisão. Nada me surpreende, desde que consegui o passaporte, os veículos de comunicação oficiais na internet de Cuba diziam que quando chegasse ao Brasil teria uma resposta contundente. Desde que abri o blog tenho recebido uma seria de difamações, mas isso não me afeta psicologicamente. A noite de ontem  foi uma mistura de sentimentos. Sou uma pessoa pacífica, que usa a palavra e as pessoas que protestavam estavam com uma virulência, como se fosse um ataque terrorista. Essas pessoas nunca leram os meus textos e que este ódio foi fomentado por alguém. No final, a sensação foi de vitória, apesar da agressividade, por minha parte havia argumento, deles somente palavras de ordem”, disse.
 
Ela ainda respondeu as críticas de que era financiada pelos Estados Unidos para ir de encontro ao regime político em Cuba. “As críticas não são sinceras. Todos os governos autoritários são iguais, o que incomoda. Tenho algo que o governo não gosta muito: minha autonomia econômica, que significa autonomia política. Tenho publicado vários livros no exterior e escrevo para vários jornais do mundo (no Brasil, Yoani é colunista do Estado de São Paulo) e sou uma contribuinte, vivo minha vida com o meu suor”, afirmou.
 
Mesmo com uma recepção sob protestos de simpatizantes do regime cubano, que começaram em seu desembarque em Recife e com a autorização de sair do país, Yoani disse que não teme pela vida, apesar das represálias. “Não temo pela minha vida. Sou responsável por tudo que falo. Não querem me matar fisicamente. Meus familiares vêm sofrendo represálias desde que abri o blog há cinco anos. Não queria um destino fácil, sabia de todas as polêmicas”, respondeu a blogueira a reportagem do Bom DIA FEIRA.
 
Yoani ainda comentou que não é a única a criticar o governo cubano através dos meios digitais. “Assim como eu há várias pessoas em Cuba fazem o mesmo, cerca de 50. Yoani não é a blogosfera, sou somente uma”, relatou a cubana, lembrando que o domínio onde escreve foi bloqueado na ilha em diversas oportunidades, mas com a ajuda de amigos, continuou na “clandestinidade”, como classificou. Hoje, o Genaración Y é traduzido, segundo Sanchéz, para vários idiomas. “Quem traduz para o inglês é uma senhora de 60 anos que mora em Nova Iorque”, afirmou.
 
Politicamente, a jornalista lembrou que no próximo 24 de fevereiro, se reunirá o Conselho de Estado, na Assembleia Nacional do Poder Popular, para decidir sobre a sucessão de Raúl Castro. “Nesse momento não há expectativas nem perguntas sobre quem será o próximo presidente. Todos sabemos. A pergunta está em quem será o primeiro vice-presidente. Todas as pessoas na última década que ocuparam alto cargo no governo e tem se destacado como sucessores, tem sido todo defenestrados. É como Saturno que devora seus filhos”, comparou a blogueira. Segundo Yoani, os nomes mais prováveis são Bruno Rodriguéz e Miguel Díaz Canel. 
 
Sobre o embargo econômico a Cuba, Sanchéz espera que as sanções a ilha acabe o mais rápido possível. “O embargo é uma ingerência, por isso não gosto. Se o objetivo era provocar mudanças no país, não conseguiu”, criticou.
 
A blogueira ainda palestra nesta terça-feira, no espaço Olimpo Eventos, às 19h.
 
                                                          (Por Hamurabi Dias)

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