“Ser ator negro no Brasil não é fácil, tem que lutar muito”. A fala do ator baiano Érico Brás, 37 anos, surge ao telefone com serenidade, apesar de retratar a gravidade de um problema que persiste. No ar em sua primeira novela da Globo, A Lei do Amor, o ator vibra com seu atual momento profissional, principalmente porque sua estreia se dá no horário nobre das 21h e com um personagem que está longe de ser mais um empregado.
“Essa estreia é um presente, porque Jader é um personagem diferente. Ele é a representação de um homem brasileiro que estudou, se formou, e é um cara sério, um enfermeiro responsável”, destaca Érico que, em sua trajetória na tevê, acumula papéis em programas como Tapas & Beijos e Zorra Total. Este último, inclusive, concorre ao Emmy Awards de melhor comédia, em cerimônia que acontece nesta segunda (21), em Nova York.
Iniciado no teatro aos 8 anos, em Fazenda Coutos, e formado no Bando de Teatro Olodum - que lhe deu reconhecimento nacional como o taxista Reginaldo do filme Ó Pai Ó -, Érico garante que “ainda é o começo”. “O momento é de crescimento e nada está garantido. Quem não se reinventa, fica pra traz. Sou um eterno aprendiz”, acredita o artista, que também atua na série Crime Time: Hora do Perigo, produção francesa gravada no Brasil e exibida no Studio+, aplicativo da Vivo, na qual vive um policial militar.
Na Globo há sete anos, Érico lembra que “no país que não tem políticas para incentivar a arte como meio de humanização, socialização e educação, ser artista cai na história do ‘ser vagabundo’”. Assim, para ele, “ser artista no Brasil é difícil e ser artista negro é pior ainda”. “O ator negro, além de ter que superar o estereótipo do artista vagabundo, tem que superar o estereótipo do artista negro. Os contáveis – eu, Lázaro Ramos, Luís Miranda... – são privilegiados e sabem da responsabilidade de estar ali”, completa.
Essa responsabilidade passa por não aceitar qualquer papel, explica Érico, que defende a importância de construir novos caminhos com diálogos mais materializados, do ponto de vista da representatividade. “Se hoje estou fazendo uma novela das nove que não é simplesmente um empregado, é porque tive pessoas no passado que fizeram isso e porque o Bando me ensinou a ser ator-cidadão”, destaca.
Persistência
Em A Lei do Amor, novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, com direção artística de Denise Saraceni, Érico Brás interpreta Jader Azevedo, um enfermeiro diplomado que é convidado a entrar na casa de Mag (Vera Holtz) para cuidar do poderoso empresário Fausto (Tarcísio Meira). “O trabalho de Jader é de extrema importância. Para entrar numa casa daquela tem que ser muito competente, já que recuperar um homem tetraplégico é uma missão”, ressalta Érico.
O enfermeiro, segundo ele, tem “a persistência do brasileiro”, já que mora na pensão de Zuza (Ana Rosa) e trabalha duro para conseguir seu sustento. Ao mesmo tempo, a persistência envolve o campo amoroso, já que o rapaz vive um eterno “pega, estica e puxa” com a cartomante Mileide (Heloisa Périssé), ex-namorada que ele tenta reconquistar a todo custo.
Enquanto mostra a recusa ainda apaixonada de Mileide, a trama também aponta um possível envolvimento do enfermeiro com a exuberante Luciane Leitão (Grazi Massafera), que tem jogado todo o charme pra cima do dedicado enfermeiro que cuida do seu sogro (Tarcísio Meira). “Eles estão muito juntos, pra lá e pra cá... Mas não me pergunte o que vai acontecer, porque também não sei”, se antecipa Érico, rindo ao telefone.
Arte política
Apesar de estar contente com as conquistas na teledramaturgia, o ator baiano está atento para o fato de que muita coisa ainda precisa ser feita para combater o racismo. Em março deste ano, por exemplo, Érico e sua mulher, a atriz e empresária Kenia Maria, 40 anos, foram retirados pela Polícia Federal de um voo da Avianca após o comandante se mostrar irritado com o local onde o casal estaria guardando sua bagagem.
Segundo Érico, que prestou queixa na Agência Nacional de Aviação (Anac) assim que desceu do avião, o comandante foi extremamente grosseiro. “Tem uma coisa que aconteceu ali que é comum no comportamento na sociedade brasileira, que é o tratamento dispensado a pessoas como nós. É normal, para alguns, tratar negras e negros dessa forma ríspida e quando nós reagimos a isso, somos tidos como subversivos, como ameaça para as outras pessoas ao redor”, denuncia o ator.
Ao apontar que muitas vezes a sociedade exclui o outro sem sequer ouvir seu lado ou entender seus motivos, Érico reforça que há, sim, “um conceito preestabelecido”. “Mas confesso que não me assusta”, contra-argumenta. “Acredito numa possível transformação disso. Faço arte por conta disso. Quando vou para o palco, para o cinema, para a televisão, estou sendo político. Minha política é feita na minha arte. Acredito que traga resultado”, finaliza, otimista.
Websérie de Érico Brás e Kenia Maria vira peça em 2017
Ao avistar dois homens negros, uma mulher guarda o celular na bolsa e começa a correr. Alcançada pelos homens, que eram policiais à paisana, a mulher ouve de um deles: “A senhora está presa sob a Lei 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que diz: ‘serão punidos na forma da lei todos os crimes de preconceito e de racismo, religião, cor e etnia”.
A cena faz parte da websérie Tá Bom Pra Você?, que leva o debate racial para o YouTube, além de recriar peças publicitárias tendo os negros como protagonistas. Idealizada e dirigida pela atriz carioca Kenia Maria, a série vai virar peça em 2017, com os dois no palco.
“Eu e Kenia estamos escrevendo juntos. É uma espécie de stand-up que a gente chama de Double Black, onde vamos abordar esses assuntos de maneira escancarada. Falar de negro com profundidade, criticar, dar risada, só preto pode. Mas é uma peça pra todo mundo!”, garante Érico, que é sócio colaborador do canal.
Criada sem televisão até 20 anos, por uma decisão política da mãe, Kenia destaca que o Brasil tem apenas 4% de negros na publicidade, apesar de ser um país onde mais da metade da população é negra. “A gente precisa parar e pensar como estamos educando nossa sociedade”, ressalta a atriz.
“Somos obrigados a falar de racismo, esse monstro horroroso que todo mês de novembro voltamos a debater. Quero deixar bem claro que a gente não gosta de falar disso, porque o racismo é cansativo. Queria falar de poesia, mas ainda não é possível”, critica Kenia, ao citar que 80% dos jovens de 15 a 29 anos que morrem no Brasil são negros.
Kenia denuncia, ainda, a realidade da mulher negra, que “ganha menos no mercado de trabalho, casa menos, morre na mão dos homens e é assediada”. “Que loucura é essa que a gente está vivendo?”, diz, indignada.
Sem escolha, resta a ela colocar o tema em pauta nas diferentes mídias. “A gente tem que deixar o romantismo e partir para o debate real, mesmo. O mês de novembro é importantíssimo, mas isso deveria ser debatido diariamente, de forma que a gente conseguisse desconstruir o racismo institucional, que é o mais perverso”, finaliza.
As informações são do Correio.
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